19 setembro, 2007

Bons Começos


Naquele tempo entre a escola e o poder ganhar alguma coisa, quase sempre acabavamos por optar pela segunda opção. Foi o que me sucedeu nos meus 15 anos, por conhecimentos que não vêm ao caso, dei por mim empregado.

Não era mau, só trabalhava de tarde, começava às 13 horas, e ficava até às 18 ou coisa assim, a memória já me falha de vez em quando.

No primeiro dia, lá fui eu cheio de orgulho, apresentar-me ao serviço, depois de atravessado o barco, vai de subir por ali a cima, Baixa, Restauradores, Avenida da Liberdade e, Praça da Alegria, era no prédio do Maxime, e bem perto do Parque Mayer, começava bem.

Não me lembro em que andar era a Associated Press, fui recebido por um dos mais notáveis jornalistas, Renato Boaventura, só o vim a saber muito tempo depois, o qual depois de me explicar o serviço, indicou uma secretária onde me sentaria para o que fosse necessário.

Era um trabalho de paquete, como se dizia na altura, e tinha como funções entre outras, atender o telex que ele diligentemente me ensinou, arrumar os jornais que podia ler quando não tivesse nada que fazer, e ponto importante, receber o serviço de uma agência, julgo que Lusitânia, cujos despachos devia arquivar de imediato no caixote do lixo.

Pela tarde fora fui conhecendo o resto dos ocupantes, o chefe era um tal Dennis, cujo apelido não me recorda, uma senhora inglesa com uma certa idade e de uma ternura imensa, Jose Shercliff, correspondente do Times, julgo não errar, mais tarde conheci o Joaquim Letria, que sempre me espantaria pela velocidade com que escrevia numa pequena máquina portátil.

Tinha sido admitido porque já me desenrascava com o inglês, assim podia responder ao telex, e falar com os ocupantes estrangeiros sem grandes complicações. Era-me dada uma verba para transportes, para quando fosse preciso ir aos jornais ao Bairro Alto buscar fotos ou outros documentos, claro que corria por ali acima e ficava com o dinheiro já que ninguém me pediria contas do mesmo.

Mas bom era mesmo o facto de coincidir a minha entrada com a chegada das bailarinas do Maxime para os seus ensaios, aí ficavam os olhos em bico.

O primeiro dia ficaria também marcado pelo facto de ao saír, o Joaquim Letria me dizer, vai com cuidado porque lá para o fundo da Avenida há confusão, e havia mesmo a Policia de Choque distribuía por tudo o que mexesse naqueles lados, não sei bem como passei, mas com aquela idade devo ter corrido um bom bocado mais que eles.

Estava no melhor dos mundos, a trabalhar só de tarde, ia aprendendo feito esponja o que ouvia e via com tais mestres ali por perto, tinha a Parque Mayer para passear, e claro as tais bailarinas do Maxime.

Não fiquei por lá muito tempo, uns meses apenas, depois deu-me na veneta e resolvi ir procurar emprego noutro lado, arrependi-me bastante e voltei à escola, mas ficou bem marcado tal inicio pela forma e conteudo.

ps: foi a unica foto que descobri, bem que tentei o pequeno jardim da Praça

1 comentário:

Coca disse...

Belos começo, Pisca. Vou tentar resolver-lhe o problema da falta de fotos da Praça da Alegria.