27 agosto, 2007

Conta-me Como Foi


Tem vindo a RTP a apresentar, mesmo com horários mais ou menos erráticos, uma série adaptada de um original espanhol, designada por "Conta-me Como Foi".

Não vou fazer qualquer consideração crítica, não me acho habilitado a tal, mas a série levou-me de novo a vários sitios e situações. Quem quiser saber mais poderá encontar uma pequena sinopse no site da RTP.

Uma das mais tocantes para mim é a referência ao trabalho de costureira externa, feito um pouco por todo o lado, viviamos no tempo em que a mulher deveria estar em casa a "cuidar do lar", mas como a vida apertava havia que descobrir outra forma de ajudar nas despesas.

O primeiro passo era comprar uma máquina de costura, haviam duas marcas na altura e uma das mais procuradas era a Oliva, vendida a prestações que não quero garantir serem semanais, tinham nalguns casos, quando se resolvia arriscar mais, um motor incoporado em vez do normal pedal. Boas galhetas levei por andar a acelerar no motor lá de casa.

Depois havia que procurar trabalho, ou este já estava acordado nas mais diversas empresas, em especial os grandes armazéns da baixa de Lisboa ou ainda, por ser mais rentável ou mais certo o trabalhar para o Casão Militar, vulgo das Oficinas Gerais de Fardamento e Equipamento.

A guerra consumia a juventude e as sucessivas levas obrigavam a pilhas e pilhas de fardamento, era ver ali na Graça, perto do Campo de Santa Clara, mais propriamente no Outeirinho da Amendoeira onde ficava a fábrica, grupos e grupos de mulheres com os atados de peças prontas para entregar, e na volta, depois de receberem o seu pagamento, penso que era feito na altura, voltarem para casa com outra carga de peças para cozer o mais rápido possível, o ciclo não parava.

Para se ser costureira externa havia que obter um cartão, isso passava por diversas questões burocráticas aliadas a algumas boas ou más vontades. As mais perfeitas , ou melhor relacionadas tinham inclusivé a distinção de fazer os galões, assim se chama o que normalmente designamos por divisas, dos oficiais.

Foram anos e anos de trabalho continuo num misto de Donas de Casa e Costureiras, sem horário nem descanso, sujeitas apenas a uma regra, quanto mais rápido trabalhassem mais ganhavam e mais trabalho traziam.

Não será do conhecimento de muita gente este carreiro de formigas, a tal série da RTP fez-mo lembrar é sempre bom não esquecer, mesmo o que pode ter sido menos bom.

Na busca de alguma informação para este post, dei de caras com este pedaço:

Tribunal Central Administrativo do Sul, 10308/00, Secção:Contencioso Administrativo - 1º Juízo Liquidatário, Data do Acordão:03-11-2005
3)- Não tem direito ao subsídio de aposentação , uma costureira que não se encontrava em actividade à data da entrada em vigor do DL nº 218/76 , já que a mesma deixou de trabalhar , em 02-04-74 , antes do fim da guerra , além de que recebia à peça , indo buscar a obra ao estabelecimento do Exército , e entragando-a , depois de devidamente confeccionada ,e , acabada , não tinha vínculo à função pública .
4)- Não se encontrava ligada ao Ministério do Exército por um contrato de trabalho subordinado , mas por um contrato de prestação de serviço, laborando fora das instalações militares.
Penso que nesta altura a tal série passa aos domingos a partir das 18.00 horas, mas é melhor confirmar.

Sem comentários: