16 agosto, 2007

Lembrando tempos divertidos

Pelos idos de 60 a 70, era normal haver nas mais diversas colectividades de Almada e arredores, bailes animadissimos, que eram "abrilhantados" por vários Conjuntos Musicais, as funções aconteciam sábado à noite domingo à tarde e por vezes ainda domingo à noite, isto alternadamente nas diversas salas, e com toda a intensidade na época de carnaval.

Ficavamos extasiados, não só com as meninas mas também com a arte e engenho dos musicos que iamos ouvindo e vendo nos palcos daqueles salões, estava lançado o bichinho para nos metermos a musicos também.

Em casa nem pensar em musicas, tinhamos era que estudar ou os menos afortunados que trabalhar e ser cumpridores.

Junto o grupo dos futuros musicos começávamos por distribuir entre nós os diversos instrumentos, melhor dizendo a candidatura aos mesmos, os que conseguiam algum dinheiro, muito pouco sempre, lá compravam uma viola na feira ladra, estava dado o tiro de partida.

Havia na altura uns manuais de posições correspondentes aos tons para viola, que se vendiam no Custódio Cardoso Pereira ali ao Rossio, bem baratos, mas era alguma coisa, e vai de começar a função, para bateria qualquer lata e dois paus já ajudava e de que maneira.

Um dia um habilidoso qualquer descobriu que as pastilhas dos bocais dos telefones publicos podiam ser adaptadas e com uns fios ligava-se a coisa ao rádio lá de casa tornando-se o instrumento electrico, o resultado era brilhante, a companhia dos telefones passava a vida a repôr pastilhas e os rádios de casa de vez em quando lá estoiravam, quando não davam choques se iam aguentando por amor à musica.

Salvo rarissimas excepções, alguns que tinham andado nas filarmonicas, ninguém sabia uma nota do tamanho do Cristo Rei.

Depois de rodada a banda, e com o apoio mais ou menos louco do pai de alguém, lá se conseguiam comprar os primeiros instrumentos, geralmente usados, que ficavamos a pagar a prestações normalmente longuissimas e sem juros.

Com a maior das calmas, lá iamos com a tralha às costas tocar de borla depois de vários pedidos e cunhas metidas. Para começar, a formação era a do costume, três violas e uma bateria, tudo ligado a um unico amplificador, com umas colunas feitas por um habilidoso e um unico microfone, o som era um desastre completo, mas a vontade era mais que muita.

O que desafina-se menos cantava, e mesmo que não soubesse inglês, fazia de conta.

Passado algum tempo lá se começava a receber algum dinheiro, que ajudava a pagar o transporte e a amortizar a divída a quem tinha "confiado" nos talentos em desenvolvimento.

O que nos divertiamos pagava tudo, e por outro lado já podiamos olhar de cima para as miudas, eramos musicos e tocavamos num conjunto, como se dizia na altura.

Estes Conjuntos, prefiro chamar assim, eram de rotação constante, a tropa punha e dispunha nas formações que frequentemente tinham que substituir os que se iam forçosamente ausentando.

Demorava tempo, diria anos, até que finalmente conseguissemos vêr algum dinheiro em troca, o que como é de calcular, ajudava ainda mais à vontade de prosseguir uma carreira (aqui para nós destinada ao anonimato), na maioria dos casos, alguns houve que foram bem mais além porque de facto tinham mesmo talento, lembro-me do meu amigo Zé Nabo, hoje musico conceituadissimo, se alguém o vir, um abraço para ele.

Isto sucedeu por todo o País, era o tempo dos musicos de carne e osso.

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