21 agosto, 2007

O Fado que nos une




O que vou dizer será uma tremenda heresia para os mais puristas, mas tive oportunidade de o verificar.

Para além da lingua Portuguesa, o Fado tem o seu papel de união atravéz dos povos de Lingua Portuguesa, eu conto.

Sendo dado às musicas e afins, durante as minhas andanças por Angola e em especial em Luanda, fui levado por um amigo meu até a um dos diversos sitios onde se cantava fado.

Apresentado ao grupo que cultivava (como se usa dizer), a canção num arremedo de saudade por um lado e gosto de o fazer por outro, acabei por ser integrado no grupo.

Tive assim oportunidade de participar em inumeras cantorias que um pouco por toda a cidade de Luanda iam acontecendo ao acaso dos pedidos ou dos sitios disponíveis.

Eram famosos os serões de Fado Vadio que aconteciam religiosamente às 6ª feiras à noite na Associação 25 de Abril, num edificio espantoso que fica na Baixa da cidade. Tinham esses serões as mais diversas audiências, desde Portugueses radicados, a Angolanos que não perdiam uma, de entre estes, era normal encontrarem-se por vezes altos dirigentes de Angola, ou quando sucedia acontecer a FILDA, Feira Internacional de Luanda, visitantes havia que para além do seu trabalho tinham como ponto a visitar as tais sessões de Fado, era parte do seu programa de viajem.

Com grande pena minha não tenho nenhuma foto da sala que é espantosa, um rectângulo com um pé-direito que albergava um varandim que se estendia pela sua metade.

Acontecerem noites inesquecíveis, lembro em particular uma em que surgindo o Rui Mingas por lá, acabámos já de manhã numa mistura de Fado e musica Angolana onde o Rui que não aparecia a cantar há anos, nos foi mostrando o que tinha guardado no bau, coisas que acontecem não se programam.

Com infinita paciência o Jeronimo na guitarra e o Purificação na viola, onde se juntava por vezes o Nito, iam acompanhando quem aparecia e enquanto houvesse "fregueseses" a coisa lá ia decorrendo.

O grupo foi-se alargando, era sucessivamente convidado para os mais diversos sitios, chegou inclusivé o Embaixador de Portugal na altura, a pedir para se ir cantar a sua casa para convidados que tinham vindo de Lisboa, noutros casos ainda, lá iamos aos mais diversos sitios de Angola porque os pedidos foram surgindo.

A este grupo ainda juntaram-se algumas alunas da Escola Portuguesa, que pela sua qualidade se foram afirmando como cantoras de grande potencial, o Purificação como seu professor na Escola encarregava-se de lhes ir metendo o bichinho.

Não faziam parte deste grupo apenas portugueses, angolanos e angolanas foram também surgindo e ficando.

Uma coisa foi sempre certa, mais do que a qualidade dos cantores, que como amadores faziam o que conseguiam, o Fado era o traço de união nos mais diveros sitios, ouvido quase sempre com aquela "religiosidade" necessária, por todos os que iam acorrendo às funções.

Continua ainda a acontecer em Luanda quase todos os fins de semana num traço de saltimbancos, lá vai indo com os mesmos musicos e as vozes que acontecerem estar disponíveis, onde calha acontecer.

Que não se perca, um dia destes vou aí.


2 comentários:

samuel disse...

Caro Pisca
Certamente havemos de voltar a crusar-nos...
Por agora a visita é só para agradecer e retribuir (já está) o link.
Abraço.

RH disse...

A AIDGLOBAL apresenta o espectáculo de solidariedade O FADO ACONTECE que decorrerá no dia 10 de Novembro, pelas 22h00, no Forum Lisboa. Celeste Rodrigues, Raquel Tavares, Ana Sofia Varela, Sofia Amendoeira, Hélder Moutinho, Ricardo Ribeiro, Artur Batalha, Luís Pinheiro, Luís David. Mais informações em www.aidglobal.org