14 julho, 2007

Meu Tio Avô

Descobri por acaso no site http://amareleja.com.sapo.pt que já menciono no post anterior.

Toda minha vida ouvi falar no meu Tio Avô Manuel Agostinho, alentejano de Amareleja, dizia sempre que havia de morrer num dia de S.Martinho, e cada ano que passava, já com idade avançada, iam-lhe perguntando e ele respondia sempre, que se não tinha sido nesse ano, seria no seguinte. Até que um dia foi mesmo
Dele se conta também, que já com alguma idade, ao pretender subir para um burro, terá dito:
- Deus me ajude !
Subiu por um lado e caiu do outro, levantando-se de pronto logo comentou:
- Deus me ajude mas não tanto !
Mas voltando à sua morte, ficou célebre o seu funeral, o qual preparou com antecedência e para o mesmo deixou em verso as suas ultimas vontades, foram esses versos que agora por mero acaso fui achar, resta acrescentar que tudo foi cumprido até ao mais pequeno detalhe

Rapazes em eu morrendo
Aquele que me acompanhar
20 litros de vinho se hão-de achar
Pois 15 litros já estão sendo
O ano que vem se lá chegar
Ainda posso deixar outros tantos
Para que haja vinho até sobrar

II
Dêem também ao coveiro
Que ainda hoje está servindo
Para beber um copinho
E que faça a cova lizinha
Para não esfolar o traseiro
Se for o José Rita Rafeiro
Que ainda hoje está servindo
Talvez depois em eu indo
Seja outro empregado
Talvez malcriado
Que é isso que eu estou sentindo

III
Já fizemos o pedido
Do nosso amigo leal
De o virmos acompanhar
Até chegar ao jazigo
Este já está servido
Agora que Deus o ajude
Eu já fiz por ele o que pude
Que mais não pude fazer
Mas agora vamos beber
O vinho à sua saúde

IV
Façamos uma parada
No meio desta travessa
Que eu não quero que me esqueça
O nosso amigo de pancada
Bebamos outra golada
Que ainda não se acabou
E não queremos que sobre nada

V
Façamos outra parada
À entrada da Aldeia
Que o amigo já não passeia
E não precisa de nada
Se encimou a jornada
Pois assim estava dado
Quatro foguetes ao rabo
Para que a gente veja
Que houve em Amareleja
Um enterro festejado

VI
Se acaso vier o padre da Póvoa ao enterro
Dêem-lhe vinho sem medo
Antes de chegar à cova
Que aí é que está a prova
Da boa encomendação
E eu como bom cristão
Quero ir bem encomendo
Pois quero ser bem salvaguardo
Lá no Reino da Salvação

Manuel Agostinho Pereira, Amareleja

Nota: Um enterro festejado na Amareleja no dia 11 de Novembro de 1921

5 comentários:

Coca disse...

Será que se aplica o velho ditado -Quem sai ao seus...

Coca disse...

E gostei tanto da Amareleja que introduzi um link para as minhas rotas.

Pisca disse...

Se calhar é capaz de ser.

Quanto aos burros e outros de 4 patas, tudo me servia, dos trambolhões já nem me lembro.

Sobre o vinho, mas quem é que resiste ao nectar dos deuses da Granja e Amareleja ?

Coca disse...

Também tenho para a troca. A minha primeira vez foi aos dois ou três anos uma "burrica tão mansinha" nas palavras da minha mãe, que tropeçou numa pedra e lá foi a garota a voar.
E o tinto de Pias, amigo Pisca?

Pisca disse...

Não me provoque que ainda lhe vou ter que indicar o Mê Amigo Romão, com o vinho de Pias, caldo de cação e outras coisas daquelas bandas, até sopa de beldroegas com queijo fresco.

Um um grão ....

Bom o melhor é mesmo trabalhar

Isto é heresia porque acabei de chegar de Borba, mas, a estrada, a estrada ....