14 julho, 2007

Ser Alentejano



Se tivesse que me definir, diria que sou geneticamente alentejano.

Nascido em Lisboa, ali bem no centro, frequesia do Socorro e Maternidade Magalhãos Coutinho, fui levado logo de seguida para a Graça, e por aí fiquei até aos meus 9 anos.


Descansem que não vou fazer a minha biografia.

Da Graça, ficaram as memórias do Campo de Santa Clara, a rua da Voz do Operário e a Escola com o mesmo nome, os miradouros vários e o Castelo de S.Jorge.

Mas, sendo os meus Pais Alentejanos de Amareleja, acontecia-me ir lá parar sempre que o Verão e as férias começavam, era o melhor dos mundos, tinha toda uma imensidão vistas ao meu dispôr, um quantidade tios e primos por todo o lado o que me permitia andar à solta por onde muito bem quisesse e me apetecesse.

Descobria o que era campo e animais, tudo o que tivesse 4 patas era meio de transporte para mim, tirando as mulas do meu primo às quais por serem manhosas nem me aproximava.

Fazia a minha aprendizagem da natureza sem dar nem ter consciencia disso, e mesmo na fala acabava por assimilar o sotaque bem cerrado do Alentejo mais profundo.

Tinha a sua contrapartida, de cabeças partidas, arranhões, sustos pregados à familia, tal como andar montado num cavalo em pelo, curso que tirei no tempo que mediu entre subir e tomar as rédeas e andar, dessa vez não caí, vá lá.

Como ficaram nos olhos e na alma, os tempos passados a ouvir a minha Tia Carolina enquanto fazia os mais deliciosos queijos de cabra, ou me ia contando a história da pretensa aparição da Senhora das Choças, onde ficava o monte, tudo isto ao fim do dia, sentado numa cadeira baixa alí à porta da casa, agarrando o fresco que vinha da noite e vendo ao longe, bem longe, as luzinhas de Espanha, julgo que Valencia del Monboy (perdoem se estiver errado).

Foi assim durante anos que fiz a minha "aprendizagem" de alentejano, já que geneticamente o era.

ps: as fotos foram "arranhadas" aqui : http://amareleja.com.sapo.pt vale a pena ver o site

3 comentários:

Coca disse...

E nessas conversas de fim de tarde, aposto que sentia o sopro quente do Suão e depois se deixava ficar debaixo de uma imensidão de azul escuro, num Céu onde as estrelas ganham maior protagonismo. Parece que temos biografias semelhantes, Pisca. Mas em vez de ser no Baixo as minhas raízes estão espetadas no Alto Alentejo, ali para a zona de Portalegre, onde cresceram os oito irmãos da minha mãe. Sim, e com Espanha, a uma distância de pulo de gato. Seja como for, também vivi em Beja e da Amareleja guardo as recordações das voltas à margem esquerda do Guadiana, ao serviço do Diário do Alentejo. E do calor, muito, mas mesmo muito calor.

Pisca disse...

Calor nem me fale, só me lembro das sestas (obrigadas), em casa da minha avó debaixo do "pial dos cantaros"

Sentado à porta ao fim do dia, tudo bem até que me partiram a cabeça, puxaram a cadeira e eu lá fui da costas e melão ao chão.

No dia a seguir o Dr.Caro a fazer o curativo perguntou como tinha sido.

- Foi a p.... da espanhola (tinha 6 anos e vingou-se), eu teria 9 ou 10

Já não bastava a cabeça partida juntei logo uma galheta da minha Mãe.

Era uma especialista em audio-visuais

Pisca disse...

Quando me fala em Suão, recorda-me sempre o Manuel da Fonseca e os seus livros, meus livros de ler e reler