07 maio, 2007

Canção Grata



Nas minhas "fadistices" por terras de Luanda, sucedeu cantar um fado, que pela sua particularidade e belissimo poema, está, no meu entender, entre as mais belas palavras cantadas.
Ao falar dele ao Nito, o próprio ficou espantado já que anos havia, que ninguém lhe tinha pedido tal acompanhamento.
Criado por Teresa Silva Carvalho, tem nas palavras de Carlos Queiroz, um dos mais belos poemas de despedida.
Sobre Carlos Queiroz, descobri isto:
José Carlos Queirós Nunes Ribeiro (1907-1949) nasceu em Lisboa e faleceu em Paris. Frequentou a Faculdade de Direito de Coimbra, tendo colaborado em várias revistas, tais como Presença, e Contemporânea, com poesias e artigos de crítica literária. Recebeu em 1935 o Prémio Antero de Quental do Secretariado de Propaganda Nacional com a obra Desaparecido. Foi director das revistas Panorama (1941) e Litoral (1944). A amizade de Carlos Queirós com Fernando Pessoa levou a que este último tivesse uma relação amorosa com sua irma, Ofélia Queirós. Obras: Desaparecido (1935), Breve Tratado de Não-Versificação (1948), Homenagem a Fernando Pessoa (ensaio-1936). Toda a sua poesia se encontra no volume póstumo Poesia de Carlos Queirós (1966).




A Canção Grata


Por tudo o que me deste: — Inquietação, cuidado,
(Um pouco de ternura? E certo, mas tão pouco!)
Noites de insónia, pelas ruas, como um louco...
Obrigado, obrigado!


Por aquela tão doce e tão breve ilusão.
(Embora nunca mais, depois que a vi desfeita,
Eu volte a ser quem fui),
sem ironia: aceita
A minha gratidão!


Que bem me faz, agora, o mal que me fizeste!
— Mais forte, mais sereno, e livre, e descuidado...
Sem ironia, amor: — Obrigado, obrigado
Por tudo o que me deste!


Na foto os acompanhantes e a sua infindável paciência .......
e já agora um outro poema do mesmo autor:
NA CIDADE NASCI
Na cidade, quem olha para o céu?
É preciso que passe o avião...
Quem me dera o silêncio, a solidão,
Onde pudesse, alguma vez, ser eu!
Na cidade nasci; nela nasceu
A minha dispersiva inquietação;
E o meu tumultuoso coração
Tem o pulsar caótico do seu.
A! Quem me dera, em vez de gasolina,
O cheiro da terra húmida, a resina,
A flores do campo, a leite, a maresia!
Em vez da fria luz que me alumia,
O luar sobre o mar, em tremulina...
– Divina mão compondo uma poesia.

2 comentários:

Anónimo disse...

ATÉ QUE ENFIM QUE APARECE ALGO DE JEITO FEITO POR GENTE DE JEITO PARA GAJOS JEITOSOS!!!!
UM ABRAÇO , ZÉ ANTONIO.

Pisca disse...

Zé Obrigado, as sardinhas já estão prontas ?