22 junho, 2007

Funcionalismo Publico

Nos principios dos anos 70, mesmo no principio, fui admitido numa instituição do Estado, onde acabaria por permanecer até principios de 80.

Na secção onde fui trabalhar, eram mensalmente admitidos mais funcionários, um por mês pelo menos, o que ia causando admiração a quem lá estava e era muito verde nessas coisas, sabia-se que não havia assim tanto trabalho como isso, portanto não fariam sentido tais admissões.

Até que um dia explicaram-me a rir.

O Chefe de Serviço, era assim o titulo do cargo, quer ir a Chefe de Divisão, e isso só se consegue de uma maneira é ampliando o sector, como o que se paga a cada um que entra não é muito e o Director Financeiro não se importa, ele vai ampliando isto devagarinho.

E assim foi, por cada um ou uma que entrava lá nos iamos repartindo o já pouco serviço que tinhamos, claro que ninguém se queixava, a maioria tinha pouco mais de 20 anos e longe de nós questionar fosse o que fosse.

Não duvido que este tipo de atitude se repetiria um pouco por todo lado, conduzindo ao efeito multiplicador de funcionários para que o Chefe pudesse subir de categoria.

Resta dizer que este nunca chegou ao lugar pretendido, mas os que tinham entrado, lá ficaram.

Não é o unico motivo, bem longe de ser o principal, para a actual situação, mas que sucedeu, sucedeu, resta saber se ainda acontece.

Às tantas continua .....

Lembrei-me ao ler o que o Jumento publica num post muito bem escrito.

Retiro só uma parte:

E ao contrário do que se possa pensar o actual governo não está a aproximar os modelos de gestão do Estado aos do sector privado, faltava o fosso entre dirigentes e funcionários que foi criado com o processo de proletarização dos funcionários comuns e mecanismos de enriquecimento e protecção curricular que asseguram que os eleitos pelo poder para as funções de chefia beneficiam de um estatuto de elite independentemente das suas competências para o exercício do cargo, a função de chefia não emana da excelência no exercício de funções de gestão mas sim do facto de se pertencer a uma casta eleita. Se for burro o INA encarrega-se de lhe dar um currículo digno de uma equivalência a um MBA.

e mais adiante

Os funcionários podem ser mal pagos, maltratados, humilhados, desvalorizados, enganados, gozados, despedidos, mas deverão ser cidadãos exemplares no cumprimento das suas obrigações e por isso cria-se legislação especial para eles no pressuposto de que sendo o Estado a pagar-lhes deve haver a certeza de que são cumpridores.

a propósito disto:

«O Governo quer assim cruzar dados tão díspares como a nacionalidade, residência e estado civil dos funcionários, os benefícios sociais a que têm direito, os rendimentos declarados, o património que possuem ou a situação escolar dos seus filhos. Para que tal seja possível, as bases de dados que poderão ser consultadas vão desde os registos da Caixa Geral de Aposentações (CGA), aos da ADSE ou do fisco. Tudo para atingir três objectivos: "controlo do cumprimento das obrigações contributivas; atribuição rigorosa das prestações sociais; prevenção e combate à fraude e evasão contributiva", lê-se no anteprojecto de diploma.» [Público]

ps: vou aprender a fazer links como deve de ser prometo

1 comentário:

Coca disse...

De repente percebi porque ficou azedo, Pisca. E fez-me lembrar quando acompanhava profissionalmente a GNR e me questionava sobre o modelos operacional que fazia com que houvesse tantos guardas, sem funções policiais, nas secretarias. Depois de ter ouvido com escárnio 'vê-se bem que nunca fez tropa' lá me explicaram como se eu fosse muito loura que era óbvio que cada capitão nem era capitão nem era nada se não tivesse disponivel um contigente de cinco sargentos, três cabos e dez soldados. Pronto e ai, mesmo loura, percebi tudo.
Um abraço, Pisca.